Valor agregado – um conceito que deve ser extrapolado
- Virginia Motta
- 26 de nov. de 2019
- 3 min de leitura

Quando falamos de valor agregado, logo nos vem à cabeça algum produto ou serviço para um cliente. Quanto de valor agregado estou entregando para o cliente com o meu serviço ou produto? Acredita-se que este conceito surgiu nas fábricas americanas, por volta da década de 50, com o intuito de gerenciar o custo do desenvolvimento de produtos e trabalhos relacionados aos projetos (Justo, A., 2015). Sempre que sento para conversar com um gerente de projetos, estas duas palavras sempre aparecem e são consideradas como um excelente indicador sobre o desempenho do projeto. O que é uma grande verdade: este é um excelente indicador de performance.
Mas, e se prensarmos no conceito de valor agregado para as relações humanas? Estes dias, revisitando alguns projetos que desenvolvi na Halliburton, percebi o quanto agregamos de valor para a empresa durante todos aqueles anos. Mais do que isso, agregamos valor na vida de muitas pessoas. Mas um valor diferente, relacionado as relações interpessoais. Para desenvolvermos os projetos, precisávamos conversar muito, estudar, compartilhar ideias, dividir conhecimento, enfim, nos envolvermos como pessoa e com as pessoas, afinal a ferramenta da nossa área são elas.
Durante minhas lembranças, fiquei feliz por poder ter ajudado tanta gente. Em muitas conversas percebia que, às vezes, um colaborador só queria poder conversar um pouco com alguém ou contar sobre um trabalho que executou e se sentia extremamente orgulhoso, mas poucas pessoas percebiam valor naquilo que para ele era tão importante e para outros não fazia a menor diferença. Assim, estabeleci relações com TODO o tipo de gente, desde os com os menores cargos até os altos executivos. Agregava valor para eles e agregava valor para a minha vida.
Então comecei a pensar em mim, em quanto aquelas pessoas tinham agregado valor na minha vida e eu nem tinha me dado conta. Lembrei de algumas noites que passávamos discutindo como implantar o novo programa de competências em um setor que não conseguia parar nenhum um minuto e que as pessoas tinham dificuldade para entender o conceito do novo programa. Este setor era um grande desafio no meu projeto, achar um jeito que eles conseguissem atingir as metas de competências.
Como eles não tinham tempo durante o expediente, normalmente, nos reuníamos para conversar após às 19:00, assim, a operação estava mais tranquila e a maioria dos envolvidos poderiam dedicar um pouco de tempo ao projeto. Durante estas longas conversas com pessoas que eu conhecia só de nome e de reuniões, descobri tanta coisa. Descobri que um coordenador que “eu achava” que não gostava de mim porque eu não tinha deixado ele entrar em um treinamento porque chegou atrasado, na verdade tinha uma grande admiração pelo meu trabalho. Além disso, ele tinha morado muitos anos na Inglaterra e falava inglês maravilhosamente bem (pouca gente sabia disso). Depois daqueles encontros e da relação interpessoal que desenvolvemos, ele tinha o hábito de me chamar no Communicator (sistema de mensagens instantâneas) para me ensinar algumas gírias e frases informais em inglês, pois sabia que eu aspirava uma carreira internacional. Lembro destes episódios com um sorriso no rosto, pois estávamos agregando valor um para o outro: eu ajudando a equipe dele com o programa de competências e seu desenvolvimento como gestor e ele me ensinando inglês. Entregamos valor para o projeto e para as nossas vidas. Arrisco até a dizer que agregamos valor na vida de muitas outras pessoas também.
Posso continuar contando inúmeras histórias, das várias empresas que trabalhei, mas ia ficar muito chato este artigo, então vamos voltar ao objetivo principal. O que mais quero ressaltar é, neste momento da gestão 4.0 e da Era Digital, onde estamos tão focados em entregar valor agregado aos nossos produtos e serviços, vamos nos atentar também para o valor que agregamos nas nossas relações interpessoais. Como sempre, podemos agregar valor tanto de forma positiva, quanto negativa. Que valor você deseja agregar nas suas relações? Que valor as pessoas estão agregando para você? Você já parou pensar nisso enquanto executa um projeto? E quanto desses valores, vindos das relações interpessoais, são percebidos? Bem, valor real percebido já é papo para outro artigo 😁
Por Virginia Motta
Graduada em psicologa, pela UFF (Brasil), e mestra “jedi” em Gestão de Pessoas, pela Universidade do Algarve (Portugal), com foco em multiculturalismo, diversidade e inclusão.







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