Processos e planejamentos ajudam a estabelecer limites no trabalho

Cada dia mais, empresas e gestores estão ultrapassando os limites entre vida pessoal e profissional dos colaboradores. Mas existem ferramentas que podem auxiliar as empresas a evitar situações onde as pessoas precisam dizer não aos pedidos dos chefes e colegas.

Desde a Revolução Industrial, o capitalismo e as relações de poder que ele exerce estão  presentes na nossa sociedade (especialmente, no ambiente de trabalho). Durante séculos, nos acostumamos a ceder às vontades e ordens dos nossos chefes, passamos a achar normal a invasão da nossa privacidade e desqualificação dos nossos desejos. Perder a apresentação do filho na escola para atender uma reunião de última hora ou parar o almoço em família para responder a mensagem do chefe passou a ser algo corriqueiro e aceitável na vida de muitos profissionais.

Mas, esse comportamento está mudando (bem lentamente, é verdade), as pessoas estão buscando estabelecer limites no trabalho. Os efeitos do COVID-19 não atingiram apenas a área da saúde, influenciou também a nossa forma de relacionar com as pessoas. A pandemia foi tão intensa que fez muitas pessoas repensarem sobre os seus valores e o quanto estão deixando eles de lado em prol de se manter nessa sociedade onde tudo é urgente.

Não somos hipócritas de dizer que não vamos mais fazer parte dessa sociedade capitalista e imediatista, mas alguns limites precisam ser estabelecidos em função da nossa saúde mental e qualidade de vida. E foi justamente nesse ponto que a pandemia ocasionou profundas transformações nas relações de trabalho. O aumento de casos de esgotamento mental (famoso burnout), depressão e ansiedade assustou, e continua assustando, até os maiores defensores da produtividade acima de tudo e de todos.

Melissa Urban, escritora do excelente livro "Como colocar limites", elucida muito bem essa transformação cultural e social. As pessoas estão aprendendo a dizer não sem sentir culpa, afinal, quando estamos assinando um contrato de trabalho, não estamos "vendendo a nossa alma ao diabo" (um pouco forte essa analogia, mas uma grande verdade em muitas empresas).

Mas como dizer não para o seu chefe? Como não atender aquela ligação de domingo sem prejudicar a promoção que você tanto almeja? Existem diversas maneiras, mas fazer um bom planejamento e ter sólidos processos de trabalho vão evitar, e muito, que essas "atividades extras" aconteçam. Afinal, não é ruim só para o colaborador que recebe a mensagem no domingo, mas também para o seu gestor que precisa enviá-la e também interromper suas atividades pessoais.

PROCESSOS E PLANEJAMENTO DE TRABALHO: UM ALIADO PARA NÃO PRECISAR ESTABELECER LIMITES

Na maioria das vezes, as situações extraordinárias que ultrapassam o limite de uma relação de trabalho saudável são ocasionadas por falta de planejamento e organização dos processos de trabalho. As reuniões até altas horas da noite para revisar os problemas de um projeto poderiam ser evitadas se tivéssemos gasto mais tempo na parte de planejamento e levantado mais hipóteses do que poderia dar errado.

A quantidade de horas extras geradas durante o fechamento da folha de pagamento, poderiam ser reduzidas se o processo de execução fosse revisado e redesenhado, trazendo mais clareza sobre a responsabilidade de cada um, em cada fase, e o impacto que pode existir se os prazos estabelecidos não forem cumpridos.

Investir no planejamento e nos processos de trabalho traz inúmeros benefícios para as empresas, especialmente, nas relações entre gestores, colaboradores e colegas de trabalho. A partir do momento que cada um sabe o que e quando precisa fazer algo, torna-se desnecessário enviar mensagens cobrando alguma atividade fora do horário do expediente. Quando cada um entende o impacto que possui em um projeto/processo, as pessoas se tornam mais empáticas e estabelecer limites passa a ser uma ação desnecessária nas relações interpessoais.